Em 1973, Brasil e Paraguai firmaram acordo para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Rio Paraná, fronteira dos dois países. Seria a maior usina de fonte renovável do mundo, com 14.000 MW de potência instalada. O acordo foi elaborado com os devidos cuidados, visando preservar os interesses paraguaios sem perder de vista os brasileiros, mas sem dúvida, se atendia às necessidades crescentes do Brasil em energia elétrica, era para o país vizinho uma dádiva dos céus.
O Paraguai não dispunha de recursos para participar de uma obra desse porte, e até o capital inicial para constituir uma empresa binacional foi providenciado pelo Brasil. Não é exagero afirmar que o Brasil tudo fez em Itaipu: institucionalizou empresa brasileiro-paraguaia, capitalizou-a, providenciou estudos de viabilidade para a usina, contratou por intermédio de licitações internacionais projetos, construções, compra e montagem de equipamentos eletromecânicos, treinou e contratou o pessoal técnico de fiscalização, operação e controle, conseguiu e garantiu os pesados financiamentos, supervisionou construções e montagens do empreendimento e elaborou o tratado internacional que o rege.
A despeito de tudo fazer, o Brasil teve o cuidado de dividir com o Paraguai cada etapa e se fazer acompanhar de técnicos e autoridades paraguaias em cada passo dado, respeitando a soberania do vizinho. Mas também não é exagero dizer que o Brasil encabeçava todas as providências, pois tinha know-how, capital e credibilidade internacional, coisas de que o vizinho não dispunha, mas respeitava o fato de o rio fronteiriço ser metade paraguaio. Foram duas admiráveis obras de engenharia: uma, de engenharia diplomática, pois o Tratado de Itaipu, em pleno vigor, obedeceu a todos os requisitos dos dois países, foi reconhecido internacionalmente e produziu seus resultados, construindo a maior usina do mundo (só superada em potência instalada em 2003, pela chinesa Três Gargantas, mas nunca superada em volume de energia produzida); outra, de engenharia civil, mecânica e elétrica, que já produziu, desde que entrou em operação, no início da década de 1980, cerca de 2,9 bilhões de MWH. Itaipu abastecia o Paraguai em cerca de 90% de suas necessidades energéticas e o Brasil, em cerca de 10% da energia que consumia (hoje, corresponde a 6%). A energia produzida, pelo tratado, é dividida meio a meio, entre os dois países. O Brasil, desde o início, consome toda a sua parte. O Paraguai, de início, nem consumia 5%. Hoje, consome cerca de 20%. O tratado acertava que o Brasil compraria a energia que o Paraguai não consumisse, pelo custo calculado pela equipe técnica da usina, composta de membros dos dois países, e previa uma revisão aos 50 anos de sua assinatura, isto é, em 2023, quando seriam feitos ajustes por consenso, se necessários.