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Joaquim Calado e a origem do choro.

Joaquim Calado e a origem do choro.

Publicada em 21/12/24 às 11:21h - 12 visualizações

por Radio Midia Livre


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 (Foto: Radio Midia Livre )
Curiosidades da Música Popular Brasileira

“Em casa onde gato dorme no forno chorão não vai”.


É praticamente unanimidade entre os historiadores que a criação da verdadeira música popular brasileira foi resultado de uma síntese de ritmos europeus com os africanos originados dos escravos, como: Polca, Tangos, lundus, batuques, dentre outros. O Choro não fugiu deste padrão. O ritmo popular tipicamente carioca deu seus primeiros passos na segunda metade do século XIX, por volta de 1870. 

O ritmo que se caracterizou pela improvisação de vários outros ritmos como valsa, tango e o africano lundu e, preferencialmente, a polca. Desta forma, o estilo, inicialmente, na sua grande maioria, era chamado indistintamente de polca, mas se diferenciavam desta por ser executado com o ritmo alterado, incorporando a síncope dos batuques, portanto é o resultado de uma espécie de salada musical, uma síntese da polca - ritmo e dança importada da Europa muito popular nos salões da alta sociedade brasileira – com o molejo sincopado dos ritmos originado dos negros da África. Com o tempo o ritmo foi ganhando personalidade própria recebendo o título definitivo de “Choro”, bem mais identificado com o samba.

Um dos maiores expoentes deste período de gênese do choro foi o flautista Joaquim Antônio da Silva Calado (1848 a 1880), um músico virtuoso, com formação musical formal, que é considerado o pai dos chorões. 

Calado, um mestiço de apurada técnica musical, foi pioneiro na criação dos primeiros grupos de choro. Por sinal,  um dos primeiros destes grupos, que futuramente seriam chamados de regionais, foi chamado de “Choro Carioca” ou “Choro do Calado”, talvez a primeira menção ao nome que batizaria o estilo. O grupo era formado, geralmente, por um instrumento solista - no caso de Calado, a flauta - dois violões e um cavaquinho, dando uma clara visão da origem popular dos chorões, como eram chamados os músicos, na maioria, oriundos das classes mais simples, geralmente funcionários de baixo escalões do serviço públicos que, apesar de amadores, a exceção daqueles ligados a bandas militares, complementavam suas rendas e se fartavam de alimentos e bebidas tocando em festas domésticas do Rio antigo.

A pesquisadora Edinha Diniz, autora de uma cuidadosa biografia da lendária Chiquinha Gonzaga, intitulada “Chiquinha Gonzaga - Uma História de vida”, teoriza que a popularidade alcançada pelo choro pode ser explicada pela importante função social em animar as, então, numerosas festas domésticas, principalmente nas casas desprovidas de piano, instrumento, à época, considerado símbolo de status social, o que reforça o caráter popular do ritmo. Destaque-se que Chiquinha Gonzaga (foto a direita) era uma das maiores admiradoras e protegidas de Calado, chegando a fazer parte do grupo do grande flautista.

Estas festas - batizados, aniversários, casamento, etc. - apresentavam uma atrativo a mais para os chorões: uma mesa farta de iguarias, onde não faltavam leitões, perus, galinhas, além das bebidas servidas à vontade. Esta verdadeira mordomia proporcionada aos chorões deu mote para um divertido ditado popular difundido no Rio da época: “Em casa onde gato dorme no forno chorão não vai”.

Calado faleceu jovem, aos 31 anos, vítima de uma epidemia de meningo-encefalite, uma das muitas pestes enfrentadas pelo Rio do final do século XIX. Apesar de ser reconhecido como um dos mais populares músicos do Rio, poucas pessoas compareceram ao seu enterro, receosas do risco de contágio da doença.
Ouça o clássico “Flor Amorosa”, a música mais conhecida de Antônio Calado. A letra é  de Catulo da Paixão Cearense.



Fontes:
Diniz, André; Almanaque do Samba – A História do samba, o que ouvir. O que ler. Onde Curtir; Editora Zahar, 3° edição, 2008.
Diniz, Edinha; Chiquinha Gonzaga – Uma história de vida;Editora Zahar;Nova edição revista e atualizada;2009.
Severiano, Jairo; Uma história da música popular brasileira – das origens à modernidade; editora 34, 1° edição, 2008.
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