Quando os líderes do Grupo dos 20 se reunirem no Rio de Janeiro esta semana, eles planejam lançar uma iniciativa para derrotar a fome e a pobreza no mundo até 2030. O presidente do Brasil, Luiz Inácio "Lula" da Silva, é um arquiteto da ideia, o que não é pouca ironia. Suas políticas, externas e internas, desde que assumiu o cargo em janeiro de 2023, correm o risco de levar seu país a um buraco cada vez mais profundo.
O presidente Biden estará na cúpula do Rio, embora não esteja claro qual valor ele trará. No fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico em Lima, Peru, na semana passada, o pato manco americano foi ofuscado pelo ditador chinês Xi Jinping e pelo Porto de Chancay — 60% de propriedade da Cosco Shipping da China, financiado por empréstimos bancários chineses e 50 milhas ao norte da capital peruana — que era o assunto da cidade. Na medida em que os EUA ainda são um jogador na região, os membros da APEC e do G-20 sabem que Donald Trump é o cara com quem eles precisam se relacionar.
Entre as duas confabulações, o Sr. Biden parou na Amazônia para enfatizar o alarmismo climático que definiu sua presidência. Isso poderia ter sido feito de casa por muito menos dinheiro, mas acho que visitar a floresta tropical está na lista de desejos de todos.
A democracia latino-americana está em péssimo estado. A crescente influência da China na região está longe de ser o único problema. O maior desafio é a erosão do capitalismo democrático, que em muitos países está sendo substituído pelo nacionalismo e autoritarismo.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, que assumiu o cargo em 1º de outubro, já deu os últimos retoques em uma tomada de poder de partido único iniciada por seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador. Emendas constitucionais aprovadas por um Congresso controlado pelo partido Morena do presidente eliminaram a independência do judiciário e dos reguladores de fiscalização que deveriam verificar o alcance do executivo. O crime organizado tomou conta de grandes partes do país. A iminente escassez de eletricidade restringiu o boom do near-shoring que antes parecia inevitável. O peso está fraco.
Venezuela, Bolívia, Honduras, Nicarágua e Cuba são paraísos do tráfico de drogas que também anularam a independência institucional. Em El Salvador, a troca pública de democracia por segurança pessoal é racional, mas provavelmente será dolorosa a longo prazo. O estado de direito da Colômbia está mancando, assim como sua economia.
O Brasil há muito anseia por substituir os EUA como hegemonia regional no continente sul-americano. Mas assumir esse papel requer autoridade moral e peso econômico. Lula está desperdiçando ambos.
Veja a proteção retórica que ele deu ao ditador venezuelano Nicolás Maduro, que roubou a eleição presidencial de 28 de julho. A vitória desequilibrada do candidato da oposição Edmundo González Urrutia foi documentada por observadores eleitorais venezuelanos e reconhecida pela comunidade internacional. Mas quando a Organização dos Estados Americanos, que tem a missão de defender a democracia na região, realizou uma votação para reconhecer a vitória do Sr. González Urrutia, o Brasil se uniu à Colômbia e ao México para garantir que não fosse aprovada. Assim como o apoio de Lula à ditadura cubana, isso era antiamericanismo falando, não qualquer crença na legitimidade do Sr. Maduro.
O dinossauro da Guerra Fria do Brasil está se apegando não tanto a ideais utópicos de socialismo, mas a uma luxúria pelo poder que um modelo corporativo altamente centralizado oferece. Ele prefere aliados que não insistem em governo limitado, como os companheiros do Brasil do grupo Brics — Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo visa reduzir o alcance do dólar e das instituições ocidentais nas finanças internacionais e minar as sanções criando seus próprios mecanismos de empréstimo e moedas alternativas.
Lula pode odiar o domínio do dólar, mas ele ama dólares. Sua cúpula no Rio defenderá uma proposta para impor um imposto global sobre a riqueza dos ricos, visando arrecadar cerca de US$ 250 bilhões anualmente de 2.800 bilionários. Os lucros serão usados para combater as mudanças climáticas e a pobreza — sério. Isso vindo de um político cujo Partido dos Trabalhadores supervisionou o maior esquema de corrupção da história da América Latina e que foi condenado — e nunca exonerado — por seu papel nele.
Enquanto isso, a política econômica de Lula está levando o país por um caminho familiar de república das bananas ao abandonar a contenção fiscal. O ex-ministro da Economia Paulo Guedes (2019-22) controlou os gastos cortando a força de trabalho do governo e congelando seus salários nominais. Agora, "o déficit fiscal geral do setor público", informou o Goldman Sachs em 11 de novembro, "está rastreando uma ampla faixa de 9,34% do PIB (de um déficit de 7,5% há um ano)".
Essa imprudência está pressionando o real brasileiro. A inflação está em 4,6% no ano. Para mantê-lo sob controle, o banco central teve que aumentar as taxas de juros overnight para 11,25%. Grandes multinacionais tomam empréstimos a taxas de dólar, mas pequenas e médias empresas brasileiras enfrentam custos locais punitivos para crédito. Isso não é exatamente Lula locuidando do pequeno.
O mandato do respeitado banqueiro central Roberto Campos Neto termina no mês que vem. Lula o substituirá por Gabriel Galípolo. Os mercados estarão observando para ver se a independência do banco central sobreviverá. Se não sobreviver, os pobres sofrerão mais.