Recentemente, a decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) de intimar Elon Musk através da rede social X (antigo Twitter) gerou um fervoroso debate entre profissionais do direito. A ação, considerada inédita e possivelmente ilegal por alguns especialistas, levanta questões sobre a validade e as implicações de tal medida judicial.
Em um post direto na plataforma, Moraes ordenou que Musk informe, em até 24 horas, quem será o novo representante da rede social no Brasil. Caso contrário, a rede social poderia ser suspensa no país, o que causou ainda mais controvérsia no meio jurídico.
Andre Marsiglia, advogado especializado em direito constitucional e liberdade de expressão, argumenta que a intimação feita por Moraes não está conforme o código processual brasileiro. Ele enfatiza que, por ser estrangeiro, Musk deve ser notificado através de uma carta rogatória, um procedimento formal usado em comunicações judiciais internacionais.
“A intimação para Musk deveria ser realizada, mesmo estando no exterior, por meio de uma carta rogatória e outros instrumentos processuais apropriados,” explicou Marsiglia. Ele também alerta que qualquer suspensão do X sem a devida notificação seria considerada inválida e ilegal.
O uso de redes sociais para intimações legais não é uma questão pacífica no Brasil. Apesar de uma resolução do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de 2020 permitir o uso de aplicativos de mensagens como o WhatsApp, em agosto de 2023, a Terceira Turma do STJ rejeitou um caso onde uma empresa pretendia citar um devedor via mensagens eletrônicas devido à dificuldade de localização pessoal.
A ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso, observou que o Código de Processo Civil possui métodos específicos para casos onde o réu não pode ser encontrado pessoalmente, como a citação por edital.
Thiago Pádua, especialista em direito constitucional, destaca que, embora o STJ não permita intimações via redes sociais, a decisão final cabe ao Supremo Tribunal Federal. “Se o STF mudar essa orientação, pode gerar uma enorme insegurança jurídica no país,” alertou Pádua.
Por sua vez, Ludgero Liberato, especialista em direito processual, ressalta que o processo deve garantir a confirmação inequívoca de que Elon Musk, ou qualquer destinatário, recebeu a intimação. “A intimação pelo Twitter não oferece certeza absoluta de que Elon Musk foi notificado,” afirmou Liberato.
Esse episódio envolvendo Elon Musk e Alexandre de Moraes levanta um debate essencial sobre a modernização dos processos legais em uma era digital. Enquanto a intimação pelo Twitter é vista como um passo inovador, ela também traz à tona a necessidade de equilibrar inovação tecnológica com a segurança jurídica tradicional.
No entanto, sem a certeza de que o destinatário foi devidamente notificado, qualquer ação subsequente pode ser considerada nula. Portanto, é fundamental que o processo seja conduzido de forma que garanta que todos os procedimentos formais e legais sejam estritamente observados.
Assim, o futuro das intimações digitais permanece incerto e em evolução. Este caso serve como um alerta sobre os desafios e as complexidades de integrar novas tecnologias nos sistemas judiciais tradicionais, mantendo a integridade e a legalidade dos procedimentos judiciais.