Chega o táxi e abrem-me a porta:
Bom dia!
Um motorista com gestos de recepcionista pergunta qual o destino.
- APL, Academia.
Percebi que não lhe tinha caído a ficha. Troquei, então, para
São Francisco, a vizinha Igreja de São Francisco. O homem continuou na mesma, o
olhar de quem procurava o que não sabia. Entendi logo, amarrei-me ao cinto e
resolvi guiá-lo. Ele muito afável, com jeito de quem pedia desculpas.Chega o táxi e abrem-me a porta:
Bom dia!
Um motorista com gestos de recepcionista pergunta qual o destino.
- APL, Academia.
Percebi que não lhe tinha caído a ficha. Troquei, então, para
São Francisco, a vizinha Igreja de São Francisco. O homem continuou na mesma, o
olhar de quem procurava o que não sabia. Entendi logo, amarrei-me ao cinto e
resolvi guiá-lo. Ele muito afável, com jeito de quem pedia desculpas.
Chega o táxi e abrem-me a porta:
Bom dia!
Um motorista com gestos de recepcionista pergunta qual o destino.
- APL, Academia.
Percebi que não lhe tinha caído a ficha. Troquei, então, para
São Francisco, a vizinha Igreja de São Francisco. O homem continuou na mesma, o
olhar de quem procurava o que não sabia. Entendi logo, amarrei-me ao cinto e
resolvi guiá-lo. Ele muito afável, com jeito de quem pedia desculpas.
- É daqui?
- Não, sior, sou de São Paulo. Estou aqui há poucos dias.
Esperei que, por si mesmo, adiantasse mais alguma coisa, entrasse nos motivos
que o trouxeram a João Pessoa, contendo-me para não falar nas migrações
naturais provocadas pelo desemprego.
Apanhando o carro nos Expedicionários, sugeri que evitasse a Epitácio e
dobrasse, mais na frente, pela Rio Grande do Sul, uma tornada mais tranquila
para quem deseja fugir do congestionamento e alcançar a cidade velha. Meu
caminho quando ainda dirijo.
Av. Epitácio Pessoa (capital paraibana)GSView
Educado, simpático, ele
desculpava-se por estar me fazendo de guia e explicou-se: perdeu o emprego numa
revendedora de automóveis e, com o afastamento do mercado, fugiu dele,
convertendo o carro particular em táxi, escolhendo um novo meio de vida e uma cidade
mais tranquila para trabalhar.
- E quem lhe disse que isto aqui estava tranquilo?
- E não está?! – redarguiu espantado.
Lembrei-me do pavor que senti numa das minhas últimas passagens pelo Rio,
saindo de carona amiga da Ilha do Governador para o centro histórico. Dando
graças a Deus, respirando um pouco, quando o tráfego congestionava e, por
instantes, não me via lançado indefeso no comboio colado de carros, um
chispando no outro. Para muitos desses imigrantes o sufoco da nossa Epitácio é
realmente um desafogo. Como ele reparou, não é preciso madrugar para chegar às
oito horas no trabalho. Tudo ainda fica mais perto em quilômetro e em tempo de
trânsito.
Cruzeiro da Igreja S. Francisco
Matheus Jampa da Silva
- Aqui à esquerda, por favor.
Mostrei-lhe, ao lado, já diante do adro, a mais importante referência da
cidade: “Quando lhe falarem em São Francisco, é isto aqui. É uma das igrejas
mais bonitas do Brasil”. Ele acreditou, estacionou mais à frente e foi
conferir. E fiquei em dúvida se fiz certo, se não lhe furtei o tempo de outra
corrida. Suponho que não, o calcário do cruzeiro com seus pelicanos de volta à
cor original, as laterais se alvejando, além da presença de grupos visitantes
desembarcados da fila de ônibus estacionada à margem do adro.
São Francisco não entra apenas na conta do turismo religioso. É único em sua
singularidade do Barroco. Em sua fidelidade aos quatrocentos anos de modéstia
econômica da Paraíba e, em particular, ao comportamento do meio cultural e de
boa parte dos seus componentes. Não há nada mais modesto do que a Academia
Paraibana de Letras, casa dedicada à consagração dos nossos escritores,
artistas e cientistas. Salvo engano, chama a atenção dos que diariamente a
visitam certamente por isto. Descem na calçada de São Francisco e de volta
avistam a placa da imortalidade numa pequena casa antiga de rua decadente. O
taxista paulistano bem-acomodado em nosso trânsito vai levar tempo em se
acomodar à nossa modéstia.
Academia Paraibana de Letras GSView
Por Gonzaga Rodrigues
Viktor Bystrov
- É daqui?
- Não, sior, sou de São Paulo. Estou aqui há poucos dias.
Esperei que, por si mesmo, adiantasse mais alguma coisa, entrasse nos motivos
que o trouxeram a João Pessoa, contendo-me para não falar nas migrações
naturais provocadas pelo desemprego.
Apanhando o carro nos Expedicionários, sugeri que evitasse a Epitácio e
dobrasse, mais na frente, pela Rio Grande do Sul, uma tornada mais tranquila
para quem deseja fugir do congestionamento e alcançar a cidade velha. Meu
caminho quando ainda dirijo.
Av. Epitácio Pessoa (capital paraibana)GSView
Educado, simpático, ele
desculpava-se por estar me fazendo de guia e explicou-se: perdeu o emprego numa
revendedora de automóveis e, com o afastamento do mercado, fugiu dele,
convertendo o carro particular em táxi, escolhendo um novo meio de vida e uma cidade
mais tranquila para trabalhar.
- E quem lhe disse que isto aqui estava tranquilo?
- E não está?! – redarguiu espantado.
Lembrei-me do pavor que senti numa das minhas últimas passagens pelo Rio,
saindo de carona amiga da Ilha do Governador para o centro histórico. Dando
graças a Deus, respirando um pouco, quando o tráfego congestionava e, por
instantes, não me via lançado indefeso no comboio colado de carros, um
chispando no outro. Para muitos desses imigrantes o sufoco da nossa Epitácio é
realmente um desafogo. Como ele reparou, não é preciso madrugar para chegar às
oito horas no trabalho. Tudo ainda fica mais perto em quilômetro e em tempo de
trânsito.
Cruzeiro da Igreja S. Francisco
Matheus Jampa da Silva
- Aqui à esquerda, por favor.
Mostrei-lhe, ao lado, já diante do adro, a mais importante referência da
cidade: “Quando lhe falarem em São Francisco, é isto aqui. É uma das igrejas
mais bonitas do Brasil”. Ele acreditou, estacionou mais à frente e foi
conferir. E fiquei em dúvida se fiz certo, se não lhe furtei o tempo de outra
corrida. Suponho que não, o calcário do cruzeiro com seus pelicanos de volta à
cor original, as laterais se alvejando, além da presença de grupos visitantes
desembarcados da fila de ônibus estacionada à margem do adro.
São Francisco não entra apenas na conta do turismo religioso. É único em sua
singularidade do Barroco. Em sua fidelidade aos quatrocentos anos de modéstia
econômica da Paraíba e, em particular, ao comportamento do meio cultural e de
boa parte dos seus componentes. Não há nada mais modesto do que a Academia
Paraibana de Letras, casa dedicada à consagração dos nossos escritores,
artistas e cientistas. Salvo engano, chama a atenção dos que diariamente a
visitam certamente por isto. Descem na calçada de São Francisco e de volta
avistam a placa da imortalidade numa pequena casa antiga de rua decadente. O
taxista paulistano bem-acomodado em nosso trânsito vai levar tempo em se
acomodar à nossa modéstia.
Academia Paraibana de Letras GSView
Por Gonzaga Rodrigues
Viktor Bystrov
- É daqui?
- Não, sior, sou de São Paulo. Estou aqui há poucos dias.
Esperei que, por si mesmo, adiantasse mais alguma coisa, entrasse nos motivos
que o trouxeram a João Pessoa, contendo-me para não falar nas migrações
naturais provocadas pelo desemprego.
Apanhando o carro nos Expedicionários, sugeri que evitasse a Epitácio e
dobrasse, mais na frente, pela Rio Grande do Sul, uma tornada mais tranquila
para quem deseja fugir do congestionamento e alcançar a cidade velha. Meu
caminho quando ainda dirijo.
Av. Epitácio Pessoa (capital paraibana)GSView
Educado, simpático, ele
desculpava-se por estar me fazendo de guia e explicou-se: perdeu o emprego numa
revendedora de automóveis e, com o afastamento do mercado, fugiu dele,
convertendo o carro particular em táxi, escolhendo um novo meio de vida e uma cidade
mais tranquila para trabalhar.
- E quem lhe disse que isto aqui estava tranquilo?
- E não está?! – redarguiu espantado.
Lembrei-me do pavor que senti numa das minhas últimas passagens pelo Rio,
saindo de carona amiga da Ilha do Governador para o centro histórico. Dando
graças a Deus, respirando um pouco, quando o tráfego congestionava e, por
instantes, não me via lançado indefeso no comboio colado de carros, um
chispando no outro. Para muitos desses imigrantes o sufoco da nossa Epitácio é
realmente um desafogo. Como ele reparou, não é preciso madrugar para chegar às
oito horas no trabalho. Tudo ainda fica mais perto em quilômetro e em tempo de
trânsito.
Cruzeiro da Igreja S. Francisco
Matheus Jampa da Silva
- Aqui à esquerda, por favor.
Mostrei-lhe, ao lado, já diante do adro, a mais importante referência da
cidade: “Quando lhe falarem em São Francisco, é isto aqui. É uma das igrejas
mais bonitas do Brasil”. Ele acreditou, estacionou mais à frente e foi
conferir. E fiquei em dúvida se fiz certo, se não lhe furtei o tempo de outra
corrida. Suponho que não, o calcário do cruzeiro com seus pelicanos de volta à
cor original, as laterais se alvejando, além da presença de grupos visitantes
desembarcados da fila de ônibus estacionada à margem do adro.
São Francisco não entra apenas na conta do turismo religioso. É único em sua
singularidade do Barroco. Em sua fidelidade aos quatrocentos anos de modéstia
econômica da Paraíba e, em particular, ao comportamento do meio cultural e de
boa parte dos seus componentes. Não há nada mais modesto do que a Academia
Paraibana de Letras, casa dedicada à consagração dos nossos escritores,
artistas e cientistas. Salvo engano, chama a atenção dos que diariamente a
visitam certamente por isto. Descem na calçada de São Francisco e de volta
avistam a placa da imortalidade numa pequena casa antiga de rua decadente. O
taxista paulistano bem-acomodado em nosso trânsito vai levar tempo em se
acomodar à nossa modéstia.Academia Paraibana de
Letras GSView
Por Gonzaga Rodrigues