Publicada em 27/06/24 às 18:21h - 27 visualizações
por Gonzaga Rodrigues
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(Foto: Gonzaga Rodrigues)
Em crônica de alguns anos atrás, Francisco Cartaxo Rolim, secretário de planejamento no governo Ivan Bichara (1975/78), não fez por menos, não se conteve ao fim de um de seus retornos a Tambaú: “Talvez a Paraíba não se dê conta do bem que faz a si mesma. Esse ar de província exibido no visual das praias de Cabo Branco, Tambaú, Manaíra e ao longo da orla até Cabedelo. Bendito seja!”
Cartaxo reside no Recife, desde que encerrou sua participação no governo de Ivan Bichara. E por residir em Recife e ter vivido e atuado, de estudante a técnico ou gestor público, em Salvador e Fortaleza, isto é, por conhecer bem o estrago dos espigões no que esses modelos regionais tinham de mais belo, é que indaga em sua crônica ainda na era do jornal impresso:
“Para que imitar o que não presta? Em Recife, a avenida Boa Viagem virou um paredão de sombra sobre o mar, o obstáculo à circulação da brisa, tornando mais quente ainda as áreas situadas atrás, nas ruas internas do bairro. Só a ganância não enxerga o mal causado pelas edificações de cimento, ferro, cerâmica e vidro. Fortaleza seguiu trilha parecida, com a degradação de sua beira-mar e outros sítios urbanos, outrora orgulho sadio para gáudio do bairrismo cearense.”
Há oito dias li, com surpresa, neste jornal, a notícia de quatro edifícios que ousaram desrespeitar a lei que animou a expressão de louvor desse descendente do Padre Rolim: “Bendito seja”. Surpresa nem tanto pelo desrespeito à letra das constituições, consagrada reiteradamente pelas manifestações do povo, pois a ganância pode tudo (e não têm sido poucas as tentativas) mas por ver escrito, entre os infratores sem tradição de amor à terra e de sua preservação cultural, o nome Guedes Pereira. Pois tem sido em razão desse nome, inspirada pelo prefeito de todos os tempos, Walfredo Guedes Pereira, que a preservação dos nossos valores urbanos e culturais tem sido defendida. Guedes Pereira é legenda de um perfil urbano que tem feito a diferença entre a cidade de “ar sutil” vista em seus primeiros dias à “cidade mais vegetal do que urbana” de um dos seus patriarcas políticos e culturais. O brado mais obstinado pela preservação da orla natural foi sustentado, enquanto viveu, por um Guedes Pereira, o grande Hermano José. Só por descuido, penso eu, pode entrar esse nome entre os agressores da orla.
O presidente Breckenfeld, do Sinduscon-JP, defende o diálogo: “... porque tomar medidas que venham prejudicar a geração de emprego, fechar empresa, coisas desse tipo, são as piores possíveis”. Não deve estar falando pela maioria dos que levaram ao pico toda essa ampla floresta de edifícios, alguns de 40 e até 50 andares, mas respeitando a lei.
Todo esse vasto arrojo de espigões que se afastam 500 metros das nossas enseadas, atraindo turistas e novos residentes, querendo ou não vem seguindo a lei, liderando o investimento industrial e a oferta de empregos. Não será o desmanche de um ou dois andares que vai ameaçar esse horizonte.
Sepultado numa encruzilhada entre Brejo do Cruz e Catolé, o magrelo João Agripino estava longe de imaginar que entre as suas maiores obras, a da canetada ambiental é a que mais vem se impondo acima do seu tempo.
Gonzaga Rodrigues
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