A imagem de Jesus Cristo de pele branca, olhos claros e cabelos alourados foi popularizada durante o Renascimento, um período artístico que durou entre 1300 a 1600, aproximadamente. Porém, há tempos ela vem sendo questionada por pesquisadores e especialistas, já que os judeus daquela época, em sua maioria, eram morenos, de estatura baixa e mantinham seus cabelos curtos.
Pele clara e cabelos compridos: a aparência de Jesus segundo o eurocentrismo
A visão do mundo baseada no eurocentrismo, que ressaltava a Europa como o centro cultural e de referência para todo o mundo, fez com que se proliferasse a imagem de Jesus como todos a identificam hoje facilmente: um homem branco, alto, de pele clara, olhar dócil e cabelos compridos.
Data de 1305 uma das primeiras pinturas de Cristo no estilo caucasiano. A obra de arte O Beijo de Judas é um afresco pintado por Giotto di Bondone, mestre italiano do início do Renascimento, que fica na Cappella degli Scrovegni, em Pádua, na Itália.É de 1305 a obra de Giotto, na qual Cristo é retratado como um homem branco
No Museu do Prado, em Madrid, na Espanha, também há uma amostra consagrada da imagem de Jesus replicada durante o Renascimento. É o quadro Cristo Carregando a Cruz, do pintor El Greco. A pintura, de 1580, retrata uma das passagens da Via Crucis. O efeito de luz, uma das técnicas mais utilizadas pelo artista, destaca as feições de Jesus do fundo cinza, recebendo mais luminosidade e ressaltando sua expressão contemplativa.
Cristo Carregando a Cruz, pintura de El Greco, de 1580
A real imagem de Jesus é muito diferente do que foi disseminada por séculos
Uma das imagem mais antigas de Jesus, segundo pesquisadores, data do século III. O Bom Pastor encontra-se nas catacumbas de São Calixto, em Roma, na Itália. A pintura, embora pouco nítida, traz uma figura bem mais morena e com traços não tão europeus, quanto os representados comumente durante o Renascimento.
O Bom Pastor, imagem do século III que retrata a figura de Cristo
Em 2001, um documentário produzido pela BBC utilizou conhecimentos científicos para chegar a uma imagem que pode ser considerada próxima da realidade. A partir de três crânios do século I, de antigos habitantes da mesma região onde Jesus teria vivido, o especialista forense em reconstruções faciais britânico Richard Neave recriou um rosto típico daquela época utilizando modelagem 3D.
É importante ressaltar que não dá para se afirmar que essa seria a imagem real de Jesus. O que a pesquisa buscou, segundo a BBC, foi mostrar como era um homem típico daquela época e região, o que provavelmente reflete a aparência que Cristo teria.
A aparência de um homem contemporâneo de Jesus segundo Richard Neave (Crédito da imagem: BBC)
Historiadores afirmam que esqueletos de judeus daquela época mostram que a
altura média dos homens era de 1,60 m e que a grande maioria deles pesava pouco
mais do que 50 quilos. Além disso, a fisionomia dos judeus era biologicamente
semelhante à dos judeus iraquianos de hoje. Portanto, acredita-se que Jesus
tinha cabelos castanhos a pretos, olhos castanhos e pele morena.
Em relação ao cabelo, os pesquisadores usam como base uma citação de Paulo na Epístola aos Coríntios, na qual o apóstolo diz que "é uma desonra para o homem ter cabelo comprido". O que indica que o próprio Jesus deveria ter os cabelos curtos e não longos, como costuma ser retratado.
Em março de 2018, a BBC Brasil encomendou do designer Cicero Moraes uma nova face que fosse compatível ao verdadeiro Jesus de Nazaré. Apesar de não se tratar de um trabalho de reconstrução facial forense, Cicero reuniu uma série de imagens e dados acerca da população que habitava a mesma região de Cristo. O designer brasileiro criou, então, uma nova imagem que se aproximaria de um homem daquela época e localização.
Imagem que seria compatível com a aparência de Jesus, segundo o designer Cicero Moraes (Crédito: BBC)
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